sábado, 30 de agosto de 2008

Despida

Há dias que escutava um bramido. Era clamor de alma. Oriundo do recesso da criatura. Era fera querendo nascer. Rasgou um pedaço da carne pequeno a princípio. Vislumbrou uma casca grossa, viscosa, difícil crer.


E a incisão foi aumentando. Primeiro foi impulso. Depois impaciência, curiosidade, saber. Resoluta abriu um talho enorme arrancando o verniz, vulga polidez, que cobria seu ser. Caíram às máscaras. Sem couraça, sem proteção. Somente seu interior escancarado a quem ousasse ver.


No início causou choque, asco não havia precedentes para compreender sua alma revelada, sua fera liberta. Por fim, resignados a aceitaram. Contudo jamais abarcaram toda a complexidade e riqueza submersa na simples aparência, cuja única função era ofuscar seu verdadeiro ser.

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